A demanda crescente por fontes alternativas para geração de energia, associada às excelentes tecnologias para implantação, condução e manejo de florestas plantadas, tem potencializado a expansão da eucaliptocultura brasileira. A entomofauna associada aos plantios de eucalipto é vasta e inclui várias pragas. A presença desses insetos-praga é favorecida, sobretudo, pela formação de grandes maciços florestais estabelecidos com uma ou poucas espécies, e pela adoção de práticas silviculturais inadequadas.
Os grilos têm merecido atenção, face à ocorrência frequente e importância dos danos ocasionados em plantios novos de eucaliptos de diversas regiões do País. Registra-se a atual preocupação de algumas empresas do setor florestal com a incidência de danos associados a esses insetos, sobretudo em mudas de até 40 dias após o plantio.
Apesar da vasta literatura mundial sobre grilos, estudos que tratam da associação desses insetos a plantios de eucaliptos praticamente não existem. A Embrapa Florestas tem desenvolvido ações para compreender a relevância do problema e, se necessário, estabelecer estratégias de manejo integrado de pragas para o controle desses insetos na referida cultura.
Características do inseto
Os grilos são insetos que pertencem à ordem Orthoptera, família Gryllidae. Trata-se de um grupo de insetos extremamente polífago que se alimentam de uma grande diversidade de plantas e pequenos animais. São de hábitos noturnos, encontrados normalmente na superfície do solo. Durante o dia, ocultam-se sob detritos e galerias subterrâneas.
São insetos pouco estudados sobre a perspectiva de praga. A espécie comumente citada na cultura do eucalipto é Gryllus assimilis e sua ocorrência está relacionada principalmente a áreas de produção de mudas. Informações preliminares de um estudo sobre a ocorrência de grilos em plantios de eucalipto evidenciaram que os insetos adultos coletados até o momento pertencem ao gênero Gryllus L., e que possivelmente existem duas espécies distintas. Segundo especialista do grupo, esse gênero é extremamente problemático do ponto de vista taxonômico e, no momento, nenhuma espécie do Brasil pode ser atribuída a qualquer espécie já descrita. Há problemas de espécies crípticas ou muito pouco diferenciadas, problemas de material-tipo perdido, tipos com localidade imprecisa, descrições originais extremamente incompletas, entre outros.
Para se conhecer alguns aspectos da biologia desses insetos, realizou-se um estudo em laboratório, na Embrapa Florestas, e verificou-se que o ciclo de vida para Gryllus sp., coletado em plantios de eucalipto, foi relativamente longo, com uma duração de aproximadamente 117 dias para machos e 106 dias para fêmeas. O número médio diário e total de ovos por fêmeas foi de 28 e 1008 ovos, respectivamente, confirmando que os grilos são altamente prolíferos.
Danos
Acredita-se que os adultos sejam os responsáveis pelos maiores danos às mudas de eucalipto; considerando que nenhuma referência foi encontrada que possa atribuir às ninfas algum tipo de prejuízo.
Em geral, os grilos se alimentam de caules de mudas novas e tenras, podendo cortar as plantas de eucaliptos logo após o plantio.
Na Embrapa Florestas conduziu-se um teste, em laboratório, para caracterizar os danos desses insetos em mudas de eucalipto. Verificou-se nesse estudo que os primeiros sintomas de danos ocorreram um dia após a infestação das plantas com grilos e foram observados principalmente na região inferior das mudas, até uma altura máxima de dez centímetros. Os danos se caracterizaram por sinais de raspagens superficiais na casca do caule, observados inicialmente em um só ponto, estendendo-se no sentido longitudinal, atingindo comprimentos que variaram de 0,5 a seis centímetros. À medida em que se manteve a infestação, observou-se um aumento na intensidade dos sinais de mastigação superficial. Nesta ocasião, a manifestação do dano evoluiu para uma mastigação profunda, caracterizada pela destruição anelar do caule. Posteriormente, o dano atingiu sua expressão plena e definitiva, com o corte da planta, verificado a uma altura média de 1,5 centímetro do solo .
O potencial de dano de grilos em plantios comerciais de eucalipto ainda está sendo estimado, no entanto, em algumas empresas do setor florestal afirmam-se que as perdas são significativas, sobretudo em áreas de expansão implantadas na sucessão de pastagens ou cultivos agrícolas.
Alternativas de controle
Os plantios florestais de eucalipto constituem sistemas perenes com relativa estabilidade, favorecendo, desta forma, a implementação de estratégias de manejo integrado de pragas. As estratégias para conter as perdas associadas a insetos-praga devem ser elaboradas considerando uma perspectiva ecológica e de integração. Na elaboração dessas estratégias, há a necessidade de se propor medidas de controle que sejam alternativas ao uso de inseticidas químicos e de baixo risco ambiental.
O uso do controle químico para conter os danos de grilos em plantios de eucalipto é restritivo pelo impacto ambiental associado quando da aplicação de inseticidas em extensas áreas e, também, por prejudicar o processo de certificação florestal. Uma alternativa, neste caso, seria a aplicação de iscas tóxicas contendo inseticidas fosforados ou carbamatos, farelo de trigo, açúcar ou melaço e água. Trata-se de uma medida paliativa, considerando que a eficiência dessa isca é questionável, sobretudo em condições de alta umidade. É importante ressaltar que não existe nenhum produto químico registrado para o controle de grilo em eucaliptos.
A adoção do controle biológico visando minimizar os danos causados por grilos é uma estratégia pouco explorada. Estudos sobre alguns agentes de controle, entretanto, têm sido reportados na literatura, como, por exemplo, a larva da mosca Ormia ochracea (Bigot), parasitóide de adultos de Gryllus rubens Scudder; adultos da vespa Probaryconus dubius, predador de ovos de Teleogryllus commodus (Walker). Entre os agentes entomopatogênicos associados aos grilos, referências são feitas aos fungos Metarhizium anisopliae e Nosema locustae.
Na busca de métodos alternativos, acredita-se que o controle cultural, através do manejo de plantas invasoras na fase inicial de implantação da floresta, poderá minimizar os danos associados aos grilos. A manutenção das plantas invasora
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